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domingo, 8 de novembro de 2009

FAZENDA RIBEIRÃO .... HISTÓRIA DE LUTA PELO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DE UMA REGIÃO



Quem acompanha o PLANTAR & CULTIVAR desde o seu inicio conhece esta imagem. É um óleo sobre tela que pintei a partir de uma foto de infância da fazenda onde fui criada. Meses atrás estive nesta mesma fazenda e como tudo nesta vida o tempo deixou suas marcas. Conversei com o atual proprietário, colega de infância, o Antonio e ele me contou boa parte de sua história de luta para que a Fazenda Ribeirão volte aos seus dias de glória. Vou deixar que ele mesmo conte sua história.

Antonio (atual proprietário)

A Fazenda Ribeirão, propriedade que envolvia em sua área grande porção da Serra do Japi, na região de Jundiaí. Em seus mais de 800 alqueires em 1890, desenvolvia o plantio de 120 mil pés de café, uva e pastagens. Fornecedora de água para cidade de Jundiaí, graças à parceria do Coronel Antonio Mendes Pereira e a Câmara Municipal de Jundiaí datado de 1901, ainda preserva nos dias de hoje tal acordo inclusive na manutenção da adutora que atravessa toda a Fazenda Ribeirão.
Na década de sessenta foi palco e cenário para o filme de Amacio Mazzaropi, ícone do cinema nacional, Casinha Pequenina, onde Tarcísio Meira estreou sua carreira no cinema.Tem sido local muito procurado para a soltura de animais silvestres, visitas ao Casarão de dois séculos, caminhadas ecológicas, programas de conscientização ambiental, entre outras.
As características, do solo e a vegetação composta por cactos Mandacaru, Pau Jacaré, bromélias etc., em solo quartizitico, são contemplados pelos aficionados da Serra do Japi por toda a beleza e conservação nos dias de hoje.



A ligação entre as Fazendas Ribeirão e Ermida.

Por volta de 1910, Eloy de Miranda Chaves “O Pai da Previdência Nacional”, adquiriu a Fazenda Ermida e casou-se com uma filha do Coronel Antonio Mendes Pereira e adquiriu também a Fazenda Ribeirão que havia sido deixada por Herança aos cunhados.
Eloy teve dois filhos, Vail e Antonieta que se casou com Antonio C.Gordinho, mas que não tiveram filhos e constituíram a chamada Cidade dos Meninos inspirada em um filme americano da década de 50.
Em 1980 o remanescente da Fazenda Ribeirão, pois grande parte dela já havia sido vendido, foi comprada pelo Primo Irmão de Vail e Antonieta,Bento T. Mendes Pereira

A Cidade dos Meninos é uma Empresa constituída, denominada como Fundação Antonio e Antonieta Cintra Gordinho. Essa Empresa, que tem fins lucrativos, herdou todos os bens de Antonieta e Vail, e os administra com o objetivo de manter a Cidade dos Meninos, agora chamada de Cidade das Crianças, pois passou a aceitar meninas. Portanto passou a ser a vizinha da Fazenda Ribeirão.

O Projeto



Atualmente a Fazenda Ribeirão explora pecuária, piscicultura, Palmito Pupunha, Mel, entre outras pequenas culturas de época. Mas estamos trabalhando mais preocupados é com a conscientização ambiental. Com isso desenvolvemos uma atividade pedagógica que através de caminhadas ecológicas e contos mostram que pequenos hábitos fazem uma grande diferença.

O PASSADO

O PRESENTE

Os Entraves


Nosso único entrave veio de onde ninguém imaginava. A Fundação AACGordinho, embora constituída há 52 anos, passou a administrar a Fazenda Ermida a poucos anos, cometendo alguns erros; um deles foi fechar uma estrada existente a 110 anos no ano passado, deixando a Fazenda Ribeirão, que sempre a utilizou, sem luz e telefone por falta de manutenção, visto que proibia a passagem, não só dos moradores da Fazenda Ribeirão, mas também da Cia de Energia Elétrica e Telefonia fixa, obrigando nossa desistência do projeto de conscientização.
As iniciativas do Governo de São Paulo com o Trem Turístico – Passeio Ecológico, a Prefeitura de Jundiaí - Secretarias de Meio Ambiente, Cultura e Educação, o ETEC Benedito Storani – Estagiários de Turismo, o Circuito das Frutas, e aquelas escolas que nos tinham como parceiros, TODOS lamentaram muito nossa desistência.



Sanados, ainda não, mas ...

Como não havia outro meio, visto que nenhum tipo de acordo foi aceito pelos administradores da Fundação, embora até o Juiz da 3ªvara cível de Jundiaí tenha tentado, foram 4 mandados Judiciais com reforço policial para que o telefone fosse consertado e para garantir a manutenção da rede elétrica.




Circuito das Frutas:

A Fazenda Ribeirão entrou para o Circuito das Frutas após muita insistência do seu Presidente José Luiz Rizzato, ele nos fez ver o grande potencial da Fazenda, a partir daí passamos a desenvolver nosso projeto com o SEBRAE e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Jundiaí. Por exemplo, o Trem Turístico – Passeio Ecológico foi montado pela Fazenda Ribeirão e a aprovação dos Passageiros foi enorme.





Fazenda Ermida

Há alguns meses atrás, a Fundação AACGordinho, proprietária da Fazenda Ermida, solicitou à Prefeitura de Jundiaí o tombamento da Sede da Fazenda. Os 26 mil mts2 da área do Casarão agora são patrimônio da Cidade de Jundiaí, isso é muito bom, pois passará agora a ter os devidos cuidados e será aberta ao público.




Antonio disse pouco a respeito dos problemas que infelizmente a proibição da Fundação quanto ao livre acesso pela antiga estrada de servidão tem causado. Um dos maiores prejuízos é para a cultura e história de toda aquela região visto que pela estrada de servidão a ligação entre as duas fazendas é feita em poucos minutos e seria de grande interesse para o turismo ecológico. Com o intuito de fazer valer a justiça os antigos moradores da fazenda Ermida são testemunhas da existência desta estrada de ligação e para me juntar ao coro foi que enviei ao Jornal de Jundiaí a carta que transcrevo a seguir:

Lavras, 26 de agosto de 2009

CARTA ABERTA

A quem interessar possa.

Mudamos para a Fazenda Ermida no ano de 1966. Nunca me esqueço desta data, pois foi o ano em que meus pais me matricularam no então G.E. “RAFAEL DE OLIVEIRA”. Nesta época a Fazenda Ribeirão era apenas um retiro da Fazenda Ermida, portanto passei toda a minha infância e juventude nas duas fazendas. O acesso ao Ribeirão era feito por uma larga e bem conservada estrada. Sai da Fazenda Ermida com 24 anos, tenho hoje 49 e minha memória é muito boa.

A estrada de servidão que ligava a Ermida ao Ribeirão margeava a antiga represa, que arrebentou por falta de manutençaõ, e em recentes fotos do Google Earth (2005) ainda é possível se delinear seu traçado. O trânsito de carros, caminhões e pedestres era livre e seguro, visto que a conservação da estrada era periódica. Lembro-me bem que o 12º G.A.C (GRUPO DE ARTILHARIA DE CAMPANHA) de Jundiaí , utilizou por inúmeras vezes esta mesma estrada para transporte de tropas e equipamentos de grande porte, fato que seria impossível se a dita estrada nada mais fosse que uma trilha de carroças como alegam os despreparados representante da Fundação Antonio e Antonieta Cintra Gordinho.

Não faço idéia dos motivos que levaram a Fundação a inventar tal disparate e ainda mais tentar desmoralizar a palavra de tantos cidadãos idôneos. Tive o privilégio de conhecer Dona Antonieta e Dr. Vail pessoalmente e não acredito que seriam coniventes com tal arbitrariedade.

Reconheço o belo trabalho que a fundação realiza junto a crianças especiais. Entretanto o projeto FAZENDA RIBEIRÃO também é importantíssimo para o desenvolvimento sustentável da região com passeios ecológicos, trilhas e o que considero a chave de todo o projeto, restaurar a antiga sede da Fazenda Ribeirão e transportá-la aos dias de glória e beleza que ainda é possível entrever naquelas paredes, janelões e portais vandalizados. Fiquei impressionada com o trabalho solitário de Antonio Luiz Mendes Pereira um dos atuais proprietários da Fazenda Ribeirão, bis neto do Coronel Antonio Mendes Pereira e sobrinhos de Antonieta e Vail e que com a ajuda de sua esposa Andrea, vem resgatando pouco a pouco, o antigo casarão, e isso, sem as inúmeras doações da Prefeitura de Jundiaí, Empresas diversas e descontos em impostos que a Fundação é beneficiada.

Ass. Marcia Regina de Negreiros

Outra carta enviada por Silvia (minha prima que também morou na fazenda Ermida)

A/C
Sr. Antonio Luis Mendes Pereira

Estive na Fazenda Ribeirão em 25 de Janeiro de 2009, com um grupo do SESC de Campinas onde na chegada nos esperava um delicioso café da manhã. Enquanto tomávamos o café, ouvíamos histórias sobre a Fazenda Ribeirão que mais parece um pedacinho do céu.
Fizemos uma caminhada ecológica, passeamos por entre a vegetação da Serra do Japi, por trilha Secular. Foi um dia lindo.
Então este lugar é simplesmente adorável, resolvi voltar ali é fazer outro passeio.
Qual não foi a minha surpresa, o Sr Antonio Luis Mendes Pereira disse ter se desligado do programa cultural do circuito das frutas e do Expresso Turístico, que traz turista da Capital para visitar as Fazendas em Jundiaí.
E foi aí que fiquei sabendo o que havia acontecido.
No passado as Fazendas Ribeirão e Ermida eram uma só, foram separadas mas, a estrada servidão que liga a Fazenda Ribeirão à Rodovia Mal Rondon que atravessa a Ermida, continuou a ser utilizada. Nessa estrada estão também os postes da rede elétrica e de telefonia, da Fazenda Ribeirão.
A Fundação Antonio e Antonieta Cintra Gordinho é a nova proprietária da Fazenda Ermida, pois recebeu em doação dos antigos proprietários, e resolveu fechar esta passagem de ligação após 100 anos de uso, alegando que existe outra entrada para a Fazenda Ribeirão, só que como os postes da rede elétrica e telefonias passam nessa estrada, é necessário que ela continue aberta, pois é por ela que é feita a manutenção incluindo os serviços diversos da própria Fazenda Ribeirão.
Então o turismo da Fazenda Ribeirão está sendo prejudicado devido a esta estrada estar fechada.
Espero voltar naquele pedacinho de céu logo logo.



Silvia Daniele

Esta outra carta foi enviada em conjunto pelas testemunhas do processo.

CARTA DOS ABALADOS

Estamos ainda abalados com o que ouvimos no dia 26/08/2009, as 14:00 hs
No Fórum de Jundiaí, onde aconteceu a Audiência entre Fundação Antonio e Antonieta Cintra Gordinho e a Fazenda Ribeirão, onde esta solicita que a estrada Servidão, continue aberta como sempre foi, para servir as pessoas e a manutenção de sua rede Elétrica e Telefonia..
Estamos indignados e mais ainda, tivemos que ouvir da parte da Fundação, não só muitas mentiras, como também pelo seu representante(...), Dizer que nossos documentos eram FORJADOS isso mesmo, foi esta a palavra que ele usou FORJADOS.
Disse também que estamos enganados e que a estrada em questão a
( Sevidão ) era uma trilha.
Ora meus amigos agora eu digo que por muitos anos, mas muitos anos mesmo, passei naquela estrada e sei também que por ela sempre passou:
Carros, caminhões, que acho esses veículos não medem um metro e meio
Como disse o advogado da Fundação A. e A. C. G. .
E se hoje eles querem acabar com essa estrada a qualquer preço, trancando porteiras, deixando que o mato tome conta e animais pisoteando para parecer que ali nunca ouve uma estrada.
A quem eles querem enganar, levando testemunhas para dizer só o que eles querem ouvir, e não a verdade.
E nos sabemos o quanto aquela estrada foi e é útil para todos, inclusive para o município de Jundiaí, com objetivo cultural, afinal as Fazendas Ermida e Ribeirão eram uma só, e para chegar de uma a outra,essa estrada servidão a distância era e continua sendo mais curta.
Pessoas moravam na Fazenda Ermida e trabalhavam na Fazenda Ribeirão, assim com as que moravam na Fazenda Ribeirão, tinham que se locomover para compras,escolas e mesmo trabalhar, e tudo era feito por essa estrada ( a Servidão).
Hoje elas são divididas, mas, ainda fazem parte da história pois nelas existiam senzalas que significa cultura e fazer parte de uma época muito importante, onde as crianças só ficam sabendo através de livros.
E porque não levar alunos das escolas para saber e ver de perto parte
dessa historia.
Então estaremos ajudando também as 2000 mil crianças da Fundação A.A.C.G. em deixar a estrada Servidão aberta para fazer passeios até a Fazenda Ribeirão, e saber como ela era no passado e agora ainda pode continuar presente também na vida de nossas crianças. Ora isso só vai acrescentar e nunca diminuir no aprendizado.
A própria Fundação poderá proporcionar dias melhores a essas crianças que já tem tão pouco.
Então deixamos aqui o nosso desabafo em ver tanta coisa errada que poderia ser revertido ás próprias crianças da Fundação Antonio e Antonieta Cintra Gordinho

Imagens: Arquivos do Museu Mazzaropi - arquivos do PLANTAR & CULTIVAR
Entrevista concedida por Antonio Luiz Mendes Pereira

3 comentários:

Nina disse...

Mãe achei super interessante essa postagem sobre a fazenda Ribeirão, eu que conheço a senhora à 26 anos não sabia da historia....
Este quadro é o meu orgulho tenho ele como um grande presente que a senhora me deu.....
olho para ele e vejo a senhora pintando ele e me contando que quando a senhora era menina brincava ai nesta casa....
Bom espero sim que restaurem a fazenda e abram ela definitivamente para o publico!!!!!!
bjo mamis

Orquídea disse...

Marcia!

..Nasci e moro em Jundiaí há 27 anos e tenho a Serra do Japi como meu quintal desde criança. Meu pai nos levava até bem próximo à Fazenda Ermida p/ andarmos de bicicleta e lá, contemplávamos lindíssimos por-do-sol. Hoje trabalho na área da saúde, mas sempre tive um "quê" p/ ambientalismo e entendo que meio ambente é um somatório de fatores: saúde, ecologia, cidadania etc.

Preciso confessar à vc meu encantamento pela sua narrativa. Viajei no tempo e na estória com uma sensação mista de familiaridade e surpresas! Sua defesa é de encher os olhos!!

Ahh.. se tamanha preocupação fosse premissa dos moradores dessa serrinha...

Parabéns!

Teacher Ly disse...

Parabéns pelo belíssimo post! Estive lá no reveillon e desfrutei do maravilhoso ar dos morros do Japi.
Antonio é meu primo e tem muito orgulho de lá.
Saudações,
Lygia Beatriz Junqueira

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